22 de mai. de 2009

CARTA ABERTA AO ATOR SÉRGIO LOROZA

Caro Sérgio Loroza,

Você se dispôs a representar, em comerciais institucionais do SETUF (Sindicato das Empresas do Transporte Urbano de Florianópolis) , o papel de um motorista e de um usuário de ônibus de minha região, a grande Florianópolis. E o que diziam esses personagens? Enalteciam o transporte coletivo oferecido pelas empresas. Aliás, o bordão final destes comerciais, caso você não se recorde mais, é o seguinte: “Transporte Público de Florianópolis, quem conhece se surpreende”.
Na arte do teatro obviamente que os personagens da ficção não necessariamente devem coincidir com os da vida real. Neste sentido, toda a liberdade à arte e à sua inventividade.
No entanto, no caso do comercial que você protagonizou, se trata de pura propaganda política inescrupulosa de empresários que tem a pretensão de usar o carisma de um artista para vender a ideia de uma verdade social inexistente.
Lamento te informar que o motorista que você protagonizou, não existe. O usuário feliz que você encarnou está por nascer.
Pense bem: os empresários trabalham com o fator custo. Então você acha que se existissem motoristas satisfeitos e usuários sorridentes, não seria mais barato fazer um documentário com depoimentos destas pessoas ao invés de pagar um cachê considerável a um artista “global” como é o seu caso?
Para que você se surpreenda ouso fazer chegar ao teu conhecimento a seguinte informação: estes mesmos empresários que te contrataram pela encenação tem a intenção de demitir mil (mil!) cobradores de ônibus, semelhantes àqueles que controlavam as catracas dos coletivos nas tantas cenas de deslocamento da Marinete nos seriados de “A Diarista”. Realmente é surpreendente, não é, jogar no desemprego tanta gente? Talvez aquele seu personagem, o “Figueirinha”, adorasse isso, pois seriam mais mil biscateiros para ele agenciar em subempregos de toda ordem. Mas você, certamente, como rapper que é tenho certeza não concorda com uma devastação social desta natureza.
Para você se surpreender ainda mais, te digo: as empresas de ônibus recebem mensalmente um subsídio de mais de 500 mil reais de parte da Prefeitura Municipal de Florianópolis, ou seja, abocanham cerca de 7 milhões de reais anuais saídos dos cofres públicos quando esta quantia deveria estar sendo gasta em serviços públicos essenciais de saúde e educação, por exemplo. E neste momento estas mesmas empresas, que lucram tanto, relutam em conceder aumento salarial aos seus empregados.
Você se espantaria muito mais ainda se experimentasse andar em coletivos superlotados na hora do rush, com o calor da cidade e as longas distâncias dos trajetos. Tudo isso, é claro, depois de amargar uma longa espera nos pontos de ônibus e terminais.
Aliás, como sei que você estará em Florianópolis participando da “3ª Mostra Brasil de Cinema”, que se realizará entre os dias 12 e 16 de maio, promovida pelo grupo “Nação Hip Hop”, te convido para, junto comigo, uma delegação de Trabalhadores no Transporte (motoristas e cobradores de verdade!) e representantes dos usuários, conhecer a vida real do transporte de Florianópolis. Teria muito prazer em te acompanhar num “passeio” desta natureza. Não tenho dúvida que você ficaria boquiaberto, afinal de contas quem conhece os serviços prestados por estas empresas de transporte coletivo de Florianópolis e região, realmente se surpreende.

Respeitosamente,

Antônio Luiz Battisti - vereador (PT) em São José/SC

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