7 de abr. de 2008

Pensemos sobre o assunto...


Ontem, 6 de abril, domingo, o caderno “Mais”, da Folha de São Paulo, traz a tradução de um artigo de Mark Williams, originalmente publicado na revista “Technology Review” a respeito do uso pelos chineses da “engenharia do tempo” nos jogos olímpicos deste ano. Segundo a matéria da revista, o Escritório de Modificação das Condições Metereológicas do governo chines vai evitar que chova sobre o estádio olímpico de Pequim – que não é coberto - durante as competições. Rastreando as condições do tempo através de satélites, aviões e radares, com a ajuda de um supercomputador IBM p575, e usando artilharia para lançar iodeto de prata e gelo seco nas nuvens chuvosas que estiverem se dirigindo à área do estádio, eles vão fazer com que a chuva aconteça antes de poderem estacionar sobre o local das provas.
O surpreendente é que o artigo dá conta do uso frequente desta tecnologia pelos chineses; ele informa que entre os anos de 1999 e 2007 “o escritório livrou 470 mil quilômetros quadrados de granizo e gerou mais de 250 bilhões de toneladas de chuva”. Ou seja, assegurou que a lavoura fosse preservada dos efeitos nocivos do granizo e ainda por cima gerou água para irrigar as plantações. Aliás, este processo de “engenharia do tempo” foi inaugurado pelo governo chinês em 1958 para irrigar sua árida região norte.

Consta do artigo de Mark Williams que a Rússia é o país mais avançado nesta tecnologia e o usou em 1986 para impedir chuvas radioativas provenientes do desastre atômico da usina nuclear de Tchernobil.
Publico esta informação aqui no blog porque há gente que ainda nos quer fazer pensar que o homem em nada pode atuar quanto ao controle metereológico, estando eternamente condenado a ficar à merce do impoderável quando se trata de catástrofes atmosféricas causadoras de enchentes e secas, por exemplo. O problema não está na capacidade que a humanidade tem em lidar com os fenômenos climáticos (o que ainda há certamente muito a desenvolver!), mas no impeditivo econômico de colocar em prática as tecnologias existentes e fazê-las avançar com novas pesquisas nesta área. Se recursos dispendiosos podem ser gastos para assegurar tempo bom durante o grande “espetáculo” dos jogos olímpicos, eles não poderiam ser também postos em funcionamento para evitar as grandes enchentes que assolam todo o ano os povos asiáticos, causando inumeráveis vítimas humanas naquela região do nosso planeta? Eis onde entra a economia e a repartição tão desigual da riqueza mundial, com algumas centenas de homens detendo cerca de 50% do PIB mundial e utilizando esta grande massa de capital simplesmente para concentrar mais capital, ao invés de reaplicar em progresso e bem estar. É o que acostumou-se chamar de “desenvolvimento sustentado”, ou seja, só pode haver desenvolvimento na medida que sustente o modelo econômico em vigor e que beneficia muito poucos.
O exemplo da interferência chinesa para a “modificação das condições meteorológicas” pode nos fazer refletir sobre as potencialidades que os homens têm diante de si para dominar com inteligência o planeta terra, ao mesmo tempo expõe com certa nitidez aonde estão seus limites. Pensemos sobre o assunto.

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